Um dos recursos para se evitar a proliferação das larvas do mosquito da dengue e exterminar o mosquito adulto contaminado é executar o controle químico. A Secretaria Municipal de Saúde (Sesma) utiliza o ‘fumacê’, uma solução de inseticida e óleo mineral que ganha a forma de fumaça ao ser impulsionada num jato.
São duas as formas de ‘fumacê’ para a dengue: com a substância cipermetrina, em bombas pequenas (costais) que são utilizadas pelos agentes de saúde para exterminar o mosquito infectado em locais onde foram notificados casos – quebrando a cadeia viral-, e com o larvicida em bombas grandes acopladas em veículo, quando se detecta focos da dengue.
Mas de acordo com o químico farmacêutico e professor da Universidade Federal do Pará, Rosivaldo Borges, essas substâncias devem ser usadas de forma bem pontual, pois apresentam riscos à saúde e ao meio ambiente. “A cipermetrina é biodegradável, mas mesmo assim, por ser da mesma classe que a deltametrina – que extermina piolhos-, é perigosa e demanda cuidado no uso. Ela possui organoclorato, um derivado do cloro que é reativo e cuja molécula fica no ambiente”, informou.
Na análise do químico farmacêutico, a inalação do inseticida pode provocar problemas, pois os elementos piretoides como a cipermetrina não possuem metabolismo conhecido. “O governo combate o mosquito no ambiente, mas é preciso ter controle para fazer isso, saber se as bombas estão reguladas e qual a concentração do inseticida que fica por metro quadrado”.
“A cipermetrina pode desencadear reação alérgica, náuseas, mal-estar e os agentes podem desenvolver problemas respiratórios caso não estejam com a proteção adequada”, enfatizou Rosivaldo.
RESISTÊNCIA
De acordo com ele, substancias como essa tem metabolismo lento e atacam a cadeia trópica do mosquito, gerando uma resistência ao veneno. Para o professor da UFPA, o fumacê não tem eficácia nem segurança comprovadas, por isso deve ser utilizado apenas como medida paliativa.
“O controle sanitário é que tem que ser mais eficaz, a população tem muita força e tem que evitar o controle químico, pois o impacto ambiental que ele provoca é grande”, frisou Borges.
O motorista Luiz Garcia, que trabalha no transporte do fumacê, confirma que os agentes usam equipamento de segurança, mas não se sente totalmente seguro. “A gente usa luva, máscara, macacão, bota, mas não dá pra se sentir 100% seguro”. Ele afirma que, como trabalha no carro, não tem um contato tão próximo com o produto. “As pessoas que trabalham com as bombas costais têm mais contato com o produto porque ele fica nas costas deles, né? A proximidade deles é muito maior”.
Apesar dos equipamentos de segurança, para o coordenador do Sindicato dos Trabalhadores em Saúde do Estado do Pará (Sindsaúde), Carlos Costa, os agentes que trabalham com esse tipo de serviço correm riscos. “Os agentes do bem-estar social (que fazem a borrifação do fumacê) estão com um sério problema, porque estão sem equipamentos de proteção individual adequados”, afirma. “Eles correm risco porque respiram direto aquela fumaça”.